AC Cobra | 427



1965 - 1967

  • Os laços fortes entre a Inglaterra e os Estados Unidos estão bem patentes também na história do automóvel. Mas, poucos modelos constituem exemplo tão perfeito dessa ligação entre os dois países como o AC Cobra. Com chassis de origem inglesa e motor americano, este desportivo tornou-se um carro de culto, capaz de ser venerado por admiradores com as mais diversas paixões. Belo, mas espartano, o 427 foi o expoente máximo deste modelo, caracterizado pelo extraordinário desempenho mecânico e criado por um piloto texano Carroll Shelby.
  • AC Cobra 427
    O AC Cobra 427 é um dos carros mais impressionantes alguma vez construídos. Foi o último de uma série de Cobras, criados por Carroll Shelby, que soube encontrar a simbiose perfeita entre os chassis leves britânicos (AC) e os potentes motores americanos (Ford).
    De aspecto agressvio e imponente, o Cobra 427 era um carro austero, capaz de acelerações impressionantes para a sua época. Era, pura e simplesmente, o rei das estradas de todo o Mundo.
    Foi, sem dúvida, o fruto de uma ideia genial e simples do seu criador. Shelby, que deixara as corridas em 1961, soube nesse ano que a AC Cars (o mais antigo fabricante inglês) já não podia contar com os motores Bristol de seis cilindros. Escreveu ao construtor inglês, propondo-lhe que continuasse a fabricar o seu chassis, com o objectivo de criar um carro especial, equipado com um motor V8 americano. A resposta foi positiva e Shelby conseguiu da Ford o seu novo V8, muito pequeno e leve. Nasceu assim o 260 Roadster, no dia 3 de Fevereiro de 1962. Essa primeira unidade foi enviada para o Salão de Nova Iorque 
    Shelby promoveu o carro junto da imprensa especializada, utilizando apenas o primeiro construído, que foi pintado de várias cores, de modo a parecer que a produção ia de vento em popa e que já havia vários construídos. Com menos cerca de uma tonelada do que um Corvette, o Cobra entusiasmou os jornalistas que, imediatamente, descreveram as suas acelerações como explosivas.
    Shelby lutou sempre com dificuldades de produção, mesmo quando mais tarde a Ford lhe entregou o desenvolvimento dos seus carros desportivos, desde o Mustang aos protótipos de Le Mans.
    Mesmo assim, foi ganhando corridas com o Cobra e aumentando a cilindrada, até que, em 1965, o primeiro 427 de estrada ficou pronto, dispondo já de um chassis tubular, carroçaria em alumínio e um motor de sete litros de cilindrada.
    Mas, a produção de alguns modelos criados por Carroll Shelby passou a ser gerida directamente pela Ford e a Shelby-American ficou quase somente com o Cobra 427. O último roadster foi construído em Março de 1967.
  • Um nome de sonho
    Na noite em que recebeu da AC o primeiro chassis do 260, Carroll teve um sonho, em que "viu" o nome Cobra na frente do carro. Acordou, escreveu-o num bloco de apontamentos e voltou a adormecer. No dia seguinte, o nome pareceu-lhe perfeito para o novo carro. Nesse dia, o propulsor de 260 cavalos e uma caixa de quatro velocidades foram montados em menos de oito horas e o Cobra ficou pronto, pintado de amarelo-pérola. O primeiro chassis foi o CSX2000 e quando, nos anos 90, o próprio Shelby autorizou a produção de réplicas em Inglaterra, a numeração inicou-se com o CSX4001.
  • Carroll Shelby
    Shelby nasceu em 11 de Janeiro de 1923, em Leesburg, no Texas. Filho de um carteiro local, ingressou na Força Aérea americana, em 1941, e regressou à vida civil em 1945, já casado e com uma filha, estabelecendo-se em Dallas, onde começou por guiar um camião de recolha de lixo para, depois, se dedicar à criação de galinhas. O negócio não correu bem, mas, entretanto, em 1952, Carroll Shelby inicou-se nas corridas, com resultados encorajantes.
    A sua carreira prosseguiu, com altos e baixos, até 1961, ano em que teve um violento acidente, do qual demorou muitos meses a recuperar.
    No final dos anos 50 montara um negócio de venda e preparação de automóveis, a Shelby-American, tendo como sócio Dick Hall, irmão do célebre Jim Hall, que construiu o Chaparral, o primeiro carro com o chamado "efeito de solo".
    Assim, acabou por deixar as corridas e lançou-se no projecto do Cobra e numa parceria com a Ford, cujo auge foram os triunfos nas 24 Horas de Le Mans, com os célebres GT 40.
    Mas, a empresa e a equipa de competição fecharam as portas em 1969, depois da última vitória de um Shelby-Mustang, no campeonato TRANSAM. No ano seguinte a Ford e Shelby terminam a sua parceria na competição.
    Inicou-se, então, um processo judicial complicado e moroso. Só muitos anos mais tarde, em 1982, Shelby contactou a Chrysler para criar carros de alta performance com base nos Dodge.
  • Coração
    Em 1961, quando se lançou no projecto do Cobra, Carroll Shelby começou a sentir sintomas de doença cardíaca, que se agravou ao longo dos anos. Shelby abusava das pastilhas de nitroglicerina para aguentar as fortes dores que sentia no peito. Depois de uma questão judicial com a Ford, que só ficou resolvida em Março de 1990, Shelby acabou por ser operado. Recebeu o coração de um jogador de 38 anos, de Las Vegas, em transplante moroso e há muito esperado.
    Casou novamente e, em 1991, menos de um ano depois da cirurgia, correu em Indianápolis, num Dodge Viper, uma prova de 500 milhas. Passsou no exame médico sem qualquer dificuldade e criou, meses mais tarde, uma fundação com o objectivo de recolher fundos para doentes cardíacos, que no ano seguinte estendeu à Europa com sucesso.
  • Características técnicas

    Motor
    Tipo--------------------------------------V8 de válvulas à cabeça
    Cilindrada------------------------------6997 c.c.
    Diâmetro x Curso-------------------107.7x96.2 mm
    Alimentação--------------------------carburador quádruplo
    Potência-------------------------------425 cavalos às 6000 rpm
    Carroçaria
    Distância entre eixos--------------229 cm
    Peso-------------------------------------975 kg
    Performances
    Velocidade máxima----------------280 km/h
    Aceleração----------------------------0 a 96 km/h em 4,2 segundos